Penso que nunca estive tão consciente do que esta ilha significa para mim como nesta última viagem que me permiti fazer, uma série de recantos que, não porque ainda não os tenha visto, não deixam de me fazer sentir especial, por cinquenta mil razões diferentes.
Caminhar por caminhos com pedras que estão à espera da mais pequena oportunidade de partir a sola, fazendo-o tropeçar e esbarrar em arestas afiadas que lhe lembram como a sua pele é frágil em certas condições, parando o carro numa das inúmeras paragens de descanso nestas estradas estreitas, deixando o vento abanar a porta do carro, fazendo um esforço para ganhar o jogo contra o vento, fazendo um esforço para ganhar o jogo contra aquele ar que já renegais porque traz a calima, aquele pó do deserto que pica a vossa visão ou talvez seja o sal da água que está sempre a lutar para saltar cada vez mais alto à medida que rompe as rochas, sobre as quais insisto em caminhar, na costa deste oceano que nunca deixa de me lembrar quem é, o dono e senhor do que me rodeia.
Passeando sozinho, durante horas, mal falando comigo mesmo, cheio de silêncios que por vezes rompo com a música do carro, se tiver sorte de alguma estação de rádio permanecer ligada durante algum tempo, ou melhor, com alguma exclamação, mais como um rancor, aquilo a que se chama uma boa e própria deixa, talvez até me permita falar comigo mesmo sobre o quão estúpido me tornei em certas circunstâncias, e depois, como não pode ser de outra forma, defendo-me, limito-me a ver a situação da perspectiva do tempo, não aquela que dizem que cura tudo, não, nada disso, mas sim do tempo, que me faz ver as coisas com mais frieza, mais objectividade, ou se não, pelo menos, com mais respostas e certezas que me faltaram no início.
Sim, é verdade, ando sozinho, mal encontro pessoas no meu caminho, talvez evitando-as de alguma forma, quem sabe, mas é verdade que esta solidão auto-imposta, que tenho de vigiar, porque em certas doses é boa, mas se me habituar a ela… não me parece que a vida de um ermitão seja o meu objectivo mais vital.
Gosto das pessoas, não se enganem, principalmente o oposto do meu género, vá lá, esses seres incrivelmente desconcertantes e maravilhosos… Está bem, está bem, vou acabar por dizer que são mulheres, felizes? bem, eu gosto delas, o que é sem dúvida a razão de tantas cicatrizes, não todas, mas não poucas, e que, nesta minha viagem a esta ilha, a que já dei o nome de alguns cantos, desculpem, eu divirto-me do assunto, bem, é isso, que não são poucas as cicatrizes causadas por elas, mas que nesta viagem… elas estão a fazer-me sorrir mais do que lágrimas quando me lembro delas.
A primeira, a que fez quatro, a que foi a última, a que foi antes da última, a que nunca terei, a que está apenas na minha fantasia, a que só me aparece numa leitura de um poema, nesse filme que só se vê por causa da cena em que ela aparece…
São cicatrizes que, em alguns casos ainda me costumavam magoar, eu ainda costumava fixar os meus olhos no momento em que começaram, surpreendido por ainda não terem sarado devidamente, como se fosse uma dívida pendente, mas não foi assim, no fundo, e descobri-o aqui, fui eu que me recusei a deixá-los sarar, como se fosse um masoquista, com a dor que lhe causa prazer, aquele sentimento que nunca compreendi, mas que não tinha consciência de que o estava a praticar.
Sabem quem sou, todas as coisas imperfeitas que me acompanham, e no entanto… ainda aí estás comigo, acompanhando-me numa nova aventura para além do oceano, permites-te o prazer de me enviar áudios de sete minutos, dissecando-me como poucas pessoas são capazes, agradeces-me por partilhar um dos meus prazeres, tirando fotografias, com o facto de te ajudar a ser conhecido para além das redes, encorajas-me a continuar a escrever, despejando em algumas linhas tudo o que sinto, tu, que já publicaste vários livros e dos quais me declaro um mero fã…
E eu poderia continuar, sabeis que estais aí, entre esse grupo de seres maravilhosos que conseguiram, que um passeio entre pedras afiadas, um vento que me faz chorar, horas de solidão auto-imposta, de apenas exclamar rancores, de mais e mais, de mais momentos entre páginas virtuais, entre horas de trabalho, de quem sabe em que esquina ou momento especial poderia estar, conseguiu nunca me fazer pensar em sentir sozinho, porque sempre esteve lá, fazendo-me sorrir, aquecendo um pouco a minha alma, fazendo-me sonhar, sorrindo para mim quando me vê.
Sei quem sou, alguém com sorte porque tu estás lá, de mil e uma maneiras diferentes, em mil e um momentos específicos, em mil e um detalhes que surgem.
E se ainda não o sabes…
Já te disse que te amo?
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